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Lenda de Yewa
Lenda de Yewa

Na África, o rio Yewá é a morada dessa deusa, mas sua orígem gera polêmicas. A quem diga que, a exemplo de Oxumaré, Nanã, Omulú e Iroko, Ewá era cultuada inicialmente entre os Mahi e foi assimilada pelos Iorubás e inserida em seu panteão. Havia um Orixá feminino oriundo das correntes do Daomé chamado Dan. A força desse Orixá estava concentrada em uma cobra que engolia a própria cauda, o que denota um sentido de perpétua continuidade da vida, pois o círculo nunca termina. Ewá seria a ressignificação de Dan ou uma de suas metades --A outra seria Oxumaré. Existem, porém, os que defendem que Ewá já pertencia à mitologia Nagô, sendo originária na cidade de Abeokutá. Estes, certamente, por desconhecer o panteão Jeje --No qual o Vodun Eowa, da família Danbirá, seria o correspondente da Ewá dos Nagô, --Confundem Ewá com uma qualidade de Yemonjá. Erram porque Ewá é um Orixá independente, mas sua orígem não se esclarece sequer entre os Jeje, pois em respeitados templos de Voduns afirma-se que Eowa é Nagô                                             

As virgens contam com a proteção de Ewá e, aliás, tudo que é inexplorado conta com a sua proteção: a mata virgem, as moças virgens, rios e lagos onde não se pode nadar ou navegar. A própria Ewá acreditam alguns, só rodaria na cabeça de mulheres vírgens (o que não se pode comprovar), pois ela mesma seria uma virgem, a virgem da mata virgem dos lábios de mel.

Ewá domina a vidência, atributo que o deus de todos os oráculos, Orunmilá lhe concedeu.

Ewá foi uma cobra muito má e por isso foi mandada embora. Acabou encontrando abrigo entre os Iorubás, que a transformaram em uma cobra boa e bela, --A metade feminina de Oxumaré. Por esse motivo, Oxumaré e Ewá, em qualquer ocasião, dançam juntos.                                                                                    

a Gratidão

Na Nigéria, Abimbola publicou um itan Ifa (história de Ifa), falando que de carta feita estando Yewa à beira do rio, com um igba  cheio de roupa para lavar, avistou de longe um homem que vinha correndo em sua direção. Era Ifa que vinha esbaforido fugindo de iku (a morte). Pedindo seu auxílio, Yewa despejou toda roupa no chão, que se encontrava no igba, emborcou-o em cima de Ifa e sentou-se. Daí a pouco chega a morte perguntando se não viu passar por ali um homem e dava a descrição. Yewa respondeu que viu, mas que ele havia descido rio abaixo e a morte seguiu no seu encalço. Ao desaparecer, Ifa saiu debaixo do igba e Yewa, são e salvo. Este, agradecido, deu a Ewa o dom da vidência. Logo Ewa pensou algo e Orunmilá deu-lhe imediatamente a resposta, antes que ela fizesse a pergunta: "Sim, dentro em breve você terá um filho." E este foi o segundo grande presente que Orunmilá deu a Ewa. Então, levou-a para casa, a fim de tornar-se sua mulher                                                                                                                              

o rio

Havia uma mulher que tinha dois filhos, aos quais amava mais do que tudo. Levando as crianças, ela ia todos os dias à floresta em busca de lenha, lenha que ela recolhia e vendia no mercado para sustentar os filhos. Ewá, seu nome era Ewá e esse era seu trabalho, ia ao bosque com seus filhos todo dia. 
Uma vez, os três estavam no bosque entretidos quando Ewá percebeu que se perdera. Por mais que procurasse se orientar, não pôde Ewá achar o caminho de volta. Mais e mais foram os três se embrenhando na floresta. As duas crianças começaram a reclamar de fome, de sede e de cansaço. Quanto mais andavam, maior era a sede, maior a fome. As crianças já não podiam andar e clamavam à mãe por água. Ewá procurava e não achava nenhuma fonte, nenhum riacho, nenhuma poça d’água. Os filhos já morriam de sede e Ewá se desesperava.
Ewá implorou aos deuses, pediu a Olodumare. Ela deitou-se junto aos filhos moribundos e, ali onde se encontrava, Ewá transformou-se numa nascente d’água. Jorrou da fonte água cristalina e fresca e as crianças beberam dela. E a água matou a sede das crianças. E os filhos de Ewá sobreviveram. Mataram a sede com a água de Ewá.
A fonte continuou jorrando e as águas se juntaram e formaram uma lagoa. A lagoa extravasou e as águas mais adiante originaram um novo rio.

Era o rio Ewá, o Odô Ewá.

... quem entrega à Oya

Ewá, filha de Obatalá e Nanã, vivia em seu castelo como se estivesse numa clausura. O amor de Obatalá por ela era muito estranho. A fama da beleza e da castidade da princesa chegou a todas as partes, inclusive ao reino de Sango.
Mulherengo como era, Sango planejou como iria seduzir Ewá. Empregou-se como jardineiro no palácio de Obatalá. Um dia Ewá apareceu na janela e admirou-se de Sango. Nunca havia visto um homem como aquele. Não se tem notícia de como Ewá se entregou a Sango, no entanto, arrependida de seu ato, pediu ao pai que lhe enviasse a um lugar onde nenhum homem lhe enxergasse.
Obatalá deu-lhe o reino dos mortos. Desde então é Ewá quem, no cemitério, entrega a Oiá os cadáveres que Obaluaiê conduz para que Orisá-Okô os coma.

... Ewá é escondida por seu irmão Oxumarê

 

Filha de Nanã também é Ewá. Ewá é o horizonte, o encontro do céu com a terra. É o encontro do céu com o mar. Ewá era bela e iluminada, mas era solitária e tão calada. Nanã, preocupada com sua filha, pediu a Orunmilá que lhe arranjasse um amor, que arranjasse um casamento para Ewá. Mas ela desejava viver só, dedicada à sua tarefa de fazer criar a noite no horizonte, mandando sol com a magia que guarda na cabeça adô. Nanã porém, insistia em casar a filha.

Ewá pediu então ajuda a seu irmão Oxumarê. O Arco-Íris escondeu Ewá no lugar onde termina o arco de seu corpo. Escondeu Ewá por trás do horizonte e Nanã nunca mais pôde alcançá-la. Assim os dois irmãos passaram a viver juntos, lá onde o céu encontra a terra. Onde ela faz a noite com seu adô.

... Ewá é presa no formigueiro por Omulu

Ewá era uma caçadora de grande beleza, que cegava com veneno quem se atrevesse a olhar para ela. Ewá casou-se com Omulu, que logo demonstrou ser marido ciumento. 

Um dia, envenenado pelo ciúme doentio. Omulu desconfiou da fidelidade da mulher e a prendeu num formigueiro. As formigas picaram Ewá quase até a morte e ela ficou deformada e feia. Para esconder sua deformação, sua feiúra, Omulu então a cobriu com palha-da-costa vermelha. Assim todos se lembrariam ainda como Ewá tinha sido uma caçadora de grande beleza.

... Ewá casa-se com Oxumarê

Ewá andava pelo mundo, procurando um lugar para viver. Ewá viajou até a cabeceira dos rios e aí junto às fontes e nascentes escolheu sua morada. Entre as águas Ewá foi surpreendida pelo encanto e maravilha do Arco-Íris. E dele Ewá loucamente se enamorou. Era Oxumarê que a encantava. Ewá casou-se com Oxumarê e a partir daí vive com o Arco-Íris, compartilhando com ele os segredos do universo.

... Ewá atemoriza Xangô no cemitério

Numa manhã coberta de neblina, sem suspeitar onde se encontrava, Xangô dançava com alegria ao som de um tambor. Xangô dançava alegremente em meio à névoa quando apareceu uma figura feminina enredada na brancura da manhã. Ela perguntou-lhe por que dançava e tocava naquele lugar. Xangô, sempre petulante, respondeu-lhe que fazia o que queria e onde bem lhe conviesse.

A mulher escutou e respondeu-lhe que ali ela governava e desapareceu aos olhos de Xangô. Mas ela lançou sobre Xangô os seus eflúvios e a névoa dissipou-se, deixando ver as sepulturas. Xangô era poderoso e alegre, mas temia a morte e os mortos, os eguns. Xangô sentiu-se aterrorizado e saiu dali correndo.

Mais tarde Xangô foi à casa de Orunmilá se consultar e o velho disse-lhe que aquela era Ewá, a dona do cemitério. Ele estava dançando na casa dos mortos. Xangô sentia pavor da morte e desde então nunca mais entrou num cemitério, nem ele nem seus seguidores.

... Ewá se desilude com Xangô e abandona o mundo dos vivos

Ewá filha de Obatalá, viva enclausurada em seu palácio. O amor de Obatalá por ela era possessivo. A fama de sua beleza chagava a toda parte, inclusive aos ouvidos de Xangô. Mulherengo como era, Xangô planejou seduzir Ewá. Empregou-se no palácio para cuidar dos jardins. Um dia Ewá apareceu na janela e deslumbrou-se com o jardineiro. Ewá nunca vira um homem assim tão fascinante.

Xangô deu muitos presentes a Ewá. Deu-lhe uma cabaça enfeitada com búzios, com uma obra por fora e mil mistérios por dentro, um pequeno mundo de segredos, um adô. E Ewá entregou-se a Xangô. Ele fez Ewá muito infeliz até que ela renegou sua paixão.

Decidiu se retirar do mundo dos vivos e pediu ao pai que a enviasse a um lugar distante, onde homem algum pudesse vê-la novamente. Obatalá deu então a Ewá o reino dos mortos, que os vivos temem e evitam. Desde então é ela quem domina o cemitério. Ali ela entrega a Oyá os cadáveres dos humanos, os mortos que Obaluaê conduz a orixá Oco, e que orixá Oco devora para que voltem novamente à terra, terra de Nanã de que foram um dia feitos. Ninguém incomoda Ewá no cemitério.

... Ewá é expulsa de casa e vai morar no cemitério

Ewá era filha de Obatalá e vivia com seu pai em seu palácio. Era uma jovem linda, inteligente e casta. Ewá nunca havia demonstrado interesse por homem algum. Um dia, chegou ao reino um jovem de nome Boromu. Dias depois todos já cochichavam que Ewá estava enamorada do forasteiro. Obatalá riu-se da história pois, confiava em sua filha. Obatalá garantiu que ela ainda era uma flor nova e não queria experimentar desse encanto.

Passado algum tempo, Ewá mudou.Tornou-se Ewá triste, distante, distraída. Obatalá fez tudo para fazer a filha novamente feliz. Obatalá enviou a filha à terra dos homens Ele não sabia que Ewá carregava um filho em seu ventre. Uma noite, Ewá sentiu as dores do parto e fugiu do palácio. Refugiou-se na mata, onde teve o filho. O rei foi informado do sumiço de Ewá e mobilizou todo o reino para encontrar sua filha. Boromu soube da fuga e partiu para procurá-la. Acabou por encontrar Ewá desfalecida no chão de terra, coberta apenas por uma saia bordada com búzios. Ewá despertou e contou-lhe o ocorrido. Fugira com vergonha de apresentar-se ao rei. Ewá sentiu então falta do rebento e perguntou por ele a boromu.

Boromu, querendo que Ewá retornasse ao palácio, escondera o recém-nascido na floresta. Mas quando o procurou já não mais o encontrou. Pois, perto do lugar onde deixou o filho, vivia Iemanjá. E Iemanjá escutou o pranto do bebê, recolheu-o e prometeu criá-lo como se fosse filho seu. Ewá nunca mais encontrou seu filho.

Tempos depois, Ewá foi ao palácio pedir perdão ao pai, mas o rei ainda estava irado e a expulsou de casa. Naquele dia Ewá partiu envergonhada. Cobriu o seu rosto com a mesma saia bordada de búzios e foi viver no cemitério, longe de todos os seres vivos. Nunca mais viu seu filho. Ele foi criado por Iemanjá, mas Ninguém sabe quem é a mulher do cemitério. De onde vem e por que ali está. Tudo o que ocorreu é o seu segredo.