Por volta de 1907[16] /1908 (15 de novembro de 1908)[17] , as fontes divergem quanto a data precisa, um jovem chamado Zélio Fernandino de Morais, prestes a ingressar na Marinha, passou a apresentar comportamento estranho que a família chamou de "ataques". O jovem tinha a postura de um velho dizendo coisas incompreensíveis, em outros momentos se comportava como um felino.[18] Após ter sido examinado por um médico, este aconselhou a família a levá-lo a um padre, mas Zélio foi levado à um centro espírita. Assim, no dia 15 de novembro, Zélio foi convidado a se sentar à mesa da sessão na Federação Espírita de Niterói,[19] [20] presidida na época por José de Souza[21] .
Incorporou um espírito, se levantou durante a sessão e foi até o jardim para buscar uma flor e colocá-la no centro da mesa, contrariando a regra de não poder abandonar a mesa uma vez iniciada a sessão. Em seguida, Zélio incorporou espíritos que se apresentavam como negros escravos e índios. O diretor dos trabalhos alertou os espíritos sobre seu atraso espiritual, convidando-os a sair da sessão quando uma força tomou conta de Zélio e disse:[22]
Por que repelem a presença desses espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens? Será por causa de suas origens sociais e da cor? - caboclo das 7 encruzilhadas
Ao ser indagado por um medium ele respondeu:[23]
Se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque para mim não haverá caminhos fechados. O que você vê em mim são restos de uma existência anterior. Fui padre e o meu nome era Gabriel malagrida.[24] Acusado de bruxaria, fui sacrificado na fogueira da Inquisisãoem Lisboa, no ano de 1761. Mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como Caboclo brasileiro. - caboclo das sete encruzilhadas
A respeito de sua missão, assim anunciou:[25] [26]
Se julgam atrasados esses espíritos dos negros e dos índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho para dar início a um culto em que esses negros e esses índios poderão dar a sua mensagem e assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem o meu nome, que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminho fechado para mim.- caboclo das 7 encruzilhadas
No dia seguinte, na residência da família de Zélio, na rua Floriano Peixoto, no. 30, em Neves. Reuniu-se os membros da Federação Espírita, visando comprovar a veracidade do que havia sido declarado[27] pelo jovem. Novamente incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que declarou que os velhos espíritos de negros escravos e índios de nossa terra poderiam trabalhar em auxílio do seus irmãos encarnados, não importando a cor, raça ou posição social.[28] Assim, neste dia fundou o primeiro terreiro de umbanda chamado de Tenda Espirita nossa senhora da Piedade.[29]
O espírito estabeleceu normas como a prática de caridade, cuja base se fundamentaria no Evangelho de Cristo e seu nome "Allabanda",[30] substituído por "Aumbanda", e posteriormente se popularizando como "Umbanda".[27]
No ano de 1918, fundaram-se sete tendas para a propagação da Umbanda: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia, Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, Tenda Espírita Santa Bárbara, Tenda Espírita São Pedro, Tenda Espírita Oxalá, Tenda Espírita São Jorge e Tenda Espírita São Gerônimo. Até a morte de Zélio em 1975, mais de 10.000 templos foram fundados além destes iniciais.[31]
Em 1939 com o objetivo de acabar com polêmicas e na tentativa de uma unificação foi criada a União Espírita de Umbanda do Brasil.[32] A partir desse momento, somente as práticas que seguiam os fundamentos propostos pelo Caboclo Sete Encruzilhadas passaram a ser consideradas como umbandistas.[33]